17.12.08

Ilford Sportsman Pinhole 35

A transformação de câmaras fotográficas tradicionais em câmaras pinhole é uma possibilidade muito interessante em Fotografia. Mais do que a simples adaptação de uma câmara reflex, através da utilização da tampa do corpo furada em substituição da objectiva, trata-se aqui de construir uma câmara pinhole a partir de outra câmara fotográfica - operação essa que, normalmente, tem contornos definitivos e requer alguma disponibilidade para bricolage.
Na situação que apresentamos aqui, temos uma Ilford Sportsman 35 que nos foi oferecida por um comerciante de câmaras de ocasião, por estar avariada. Na verdade, a reparação desta câmara era improvável e mesmo que fosse possível, os custos não justificavam essa decisão.
Desta forma, uma câmara destinada ao lixo ou a ser desmantelada para peças, adquiriu uma função renovada e realiza imagens estenopeicas - 24 ou 36 por cada rolo 135...!


- A tampa da objectiva da câmara é a tampa de uma caixa de rolo fotográfico 135, fixada na sua posição com auxílio de fita-cola isoladora.


- Foram retirados todos os elementos ópticos da objectiva (as lentes, mas também o obturador e o diafragma), e colocou-se uma chapa metálica com um estenopo. A "distância focal" passou de 45 mm para 52 mm, o pinhole tem 0,304 mm, ou seja, corresponde a f 171.


- A chapa foi fixada com auxílio de massa autocolante, do tipo "Bostik" ou "U-tac", através de um cordão que envolve totalmente o diâmetro da mesma, pelo que, além de a fixar, impede a passagem da luz entre a chapa e os elementos da objectiva.


Castelo de Vide,
fotografia de João Augusto, Agfa APX 100, 1 seg. de exposição,
impressão em papel RC Ilford Multigrade, Dezembro de 2008.


imagens: Rui Cambraia

7.12.08

Pinhole no Inverno

Época baixa? Nem pensar...!

Não há épocas baixas em Fotografia. Cada época do ano, cada estado da meteorologia, tem as suas características próprias que são sempre apelativas fotograficamente: o tempo cinzento, o nevoeiro, as luzes artificiais (mais quentes) associadas às luzes naturais (mais frias), a neve, a humidade, árvores nuas, folhas caídas com cores improváveis, os céus carregados de nuvens extraordinárias e ocasos absolutamente magníficos. Há temas que talvez funcionem melhor que outros, mas há sempre assuntos fotogénicos no Inverno.
A fotografia pinhole não constitui uma excepção. Fotografar com papel, sendo a luz muito fraca com tempo nublado, pode conduzir a tempos de exposição demasiado longos; além disso, não sendo prático utilizar latas e caixas de madeira ou de cartão com tempo húmido, muitas vezes com vento, onde tudo está molhado e não podemos pousá-las em lado nenhum, a solução é fotografar com câmaras pinhole de película, ou SLRs de lentes intermutáveis onde substituímos a objectiva por uma tampa estenopeica.
Não é a mesma coisa que obtermos imediatamente uma imagem impressa com 18x24 cm, ou fotografias super-panorâmicas, entre outras possibilidades criativas da fotografia pinhole, mas, em contra-partida, podemos fazer 12, 24 ou 36 imagens de seguida (consoante o tipo de câmara que utilizarmos), revelar o rolo em casa e, no mesmo passo, fazermos provas de contacto, por exemplo, sem precisarmos de um verdadeiro laboratório de fotografia.
Perguntam-nos frequentemente que equipamentos são necessários para se montar um laboratório portátil ou provisório; a fotografia pinhole tem tudo a ver com isso:


- Câmaras pinhole de película: a Holga Pinhole 120 (à esquerda), e a Zero Image 2000 / 120 (à direita). Estas câmaras utilizam ambas película 120 que se encontra sempre em três lojas de Lisboa (Colorfoto, João Sousa Valles e Name Loja), ou à venda pela Internet. Ambas fazem imagens 6x6 cm (12 fotografias), sendo que a Holga pode fazer também imagens 6x4 cm (16 fotografias). O tripé é um acessório barato e recomendado.


- Câmara reflex de lentes intermutáveis (SLR), totalmente manual. Na imagem pode observar-se a tampa pinhole do corpo da câmara, que substitui a objectiva tradicional. O estenopo (o furo pinhole) foi realizado na chapa metálica redonda; esta foi depois colada à tampa, centrada sobre um orifício um pouco maior que o estenopo da chapa. Na falta de uma tampa original, pode-se recortar uma chapa redonda com o diâmetro do encaixe da baioneta, e fixá-la, provisoriamente com um cordão de massa adesiva "bostik" - que não deixa qualquer resíduo depois de retirada. O cordão de "bostik" tem também a função de impedir a entrada de luz entre a chapa e a baioneta; atenção portanto a este detalhe...!


- Químicos de processamento para papel e película. Na imagem há dois químicos opcionais: o banho de paragem (ou banho de "stop") e o agente de lavagem final; no entanto, apesar de ambos poderem ser substituídos por água simples, recomenda-se a utilização destes líquidos. Há também reveladores que servem simultaneamente para papel e película, e, nesse caso, os químicos imprescindíveis para trabalhar em casa, de forma simples e artesanal, limitam-se a dois (revelador e fixador) e não aos cinco aqui apresentados.
Na imagem mostra-se ainda um rolo de película 135 (Rollei Retro 400) e um rolo de película 120 (Kodak Tmax 100), onde se pode apreciar a diferença de largura entre ambos (35 mm Vs. 60 mm).


- Equipamento de base para um laboratório portátil: dois iluminadores vermelhos portáteis, com ficha eléctrica e interruptor, cujas lâmpadas são fáceis de substituir caso se fundam; quatro cuvetes 18x24 cm; um pack de três pinças, copos medidores e um tanque de revelação para película. Com este conjunto é possível fazer processamento de película e papel fotográfico em qualquer local que se possa isolar da luz (casa de banho, arrecadação, dispensa, etc.). Poderemos assim realizar fotografias pinhole, fotogramas, provas de contacto (para as quais é necessário ainda um vidro e uma fonte de luz branca intensa) e revelação de películas. As luzes vermelhas podem adquirir-se nas mesmas lojas, anteriormente referidas, e talvez ainda em algumas FNAC.

O preço dos químicos e do equipamento básico de laboratório rondará os 100 Euros (incluindo os iluminadores vermelhos), comprados separadamente. Em kit existem conjuntos mais completos ao nível dos equipamentos, mas sem químicos e sem luzes, em torno dos 75 Euros.

imagens: Rui Cambraia

27.11.08

Pinhole "Live View"

O sistema "Live View" na fotografia digital é uma herança do vídeo. Trata-se da possibilidade de vermos o assunto a fotografar num ecrã LCD, em tempo real, antes de efectuarmos a imagem fotográfica. Se o "Live View" é uma característica nativa nas câmaras fotográficas compactas e "Bridge", a sua chegada às câmaras reflex digitais (DSLR) é uma novidade de 2007 e em vias de democratização.
Na Fotografia Pinhole também existe a possibilidade "Live View", embora em moldes analógicos e artesanais, naturalmente.
O sistema "Live View" estenopeico é uma herança das cameras obscuras de desenho do século XVIII, em que os artistas podiam desenhar com rigor fotográfico imagens captadas através da câmara escura e projectadas num ecrã opalino.


- Vista frontal de uma câmara pinhole, cujo elemento metálico apresenta dois furos: um maior concebido para o sistema "Live View", e outro mais pequeno optimizado para a realização de fotografias.


- Detalhe da chapa frontal com os dois estenopos, em que o diâmetro do furo maior é sensivelmente o dobro do diâmetro do furo menor.


- Vista traseira da câmara pinhole "Live View", onde se pode ver a moldura de cartão contendo o ecrã de projecção opalino e uma flanela preta que, colocada à volta da cabeça quando se espreita, serve para escurecer o ambiente dentro da caixa em modo "Live View". Este ecrã é feito de papel vegetal - suficientemente opaco para se poder projectar uma imagem, e suficientemente translúcido para se poder ver essa projecção do lado de trás. A moldura está encostada a quatro batentes de madeira, no interior da caixa, que afastam o ecrã cerca de 50 mm da chapa com os estenopos (linha amarela observável na imagem frontal da câmara).
Esta moldura abre-se e fecha-se com a ajuda de fita-cola. Deste modo pode substituir-se o papel vegetal por papel fotográfico para realizar fotografias, e uma vez que esta câmara não tem tampa, usa-se o pano preto para isolar o interior da luz, introduzindo-o completamente na abertura traseira da caixa.



Imagem estenopeica "Live View" obtida com o furo maior.


Imagem estenopeica "Live View" obtida com o furo mais pequeno.


Fotografia pinhole obtida com o furo maior.


Detalhe da imagem anterior.


Fotografia pinhole obtida com o furo mais pequeno.


Detalhe da imagem anterior.

imagens: Rui Cambraia

22.11.08

O futuro não será só analógico...

Lugar às estatísticas:

Em França vender-se-ão este ano 5 milhões de câmaras fotográficas digitais, sendo que 90% são câmaras compactas e "bridges".
As vendas de impressoras baixaram 18% e dão lugar às molduras digitais cuja procura subiu 70% (trata-se de um mercado novo, com cerca de dois anos de consistência). Em contra-partida, os franceses continuam a imprimir fotografias nas lojas, através de unidades automáticas de impressão, ou através da internet: cerca de 2,7 biliões de tiragens 10x15...!
As vendas de reflex digitais subiram 18%, sendo que 80% destas são de entrada de gama - abaixo dos mil Euros. Ao todo vender-se-ão cerca de 260 mil câmaras reflex digitais em 2008. A crise económica não atingiu a Fotografia.

Não se podem estabelecer comparações directas de país para país, e por isso estas estatísticas francesas não nos ajudarão a prever com segurança o que se passará em Portugal - mas constituem, ainda assim, indicadores de tendências. A estes dados é necessário justapor a tendência (precisamente) para o regresso à utilização de câmaras analógicas, associado à digitalização de alta qualidade de películas para suporte digital, que surgiu comercialmente nos Estados Unidos da América.
Em Portugal a tendência, até agora, é inversa às anteriormente explicitadas, e vai no sentido da absoluta irradicação da fotografia analógica do mercado e do fim das tiragens em papel. Ainda assim, surgiram no mercado algumas lojas a prestar o serviço de digitalização de negativos ou slides para CD, na tentativa de reanimar a utilização das câmaras analógicas que as pessoas ainda têm em casa, e a recuperação de películas antigas. Contudo, na generalidade dos casos, estes serviços estão sujeitos a uma enorme especulação de preços e a uma péssima qualidade técnica do serviço, que acabarão por ter o efeito absolutamente contrário ao esperado.



Em todo o caso, nunca, desde há 169 anos, a fotografia esteve tão democratizada e implementada nos hábito sociais: se considerarmos nesta perspectiva os telemóveis com câmaras fotográficas, podemos certamente determinar que, pelo menos nas grandes cidades e zonas urbanas, cada família terá uma câmara fotográfica em casa.
Imagine-se agora como seria o mundo, se cada utilizador de uma destas câmaras fotográficas soubesse servir-se dela de forma consistente - técnica, formal e esteticamente...!?
Nesse sentido, há tanto por fazer que o investimento formativo na área da fotografia se afigura um mercado florescente e revestido de sentido... mas será mesmo!?

Fonte: Chasseur d'Image, #309 - Décembre 2008

imagem: Rui Cambraia
(Nikon F, Nikon D40, Fuji Instax 200, Zero Image 2000)

21.11.08

Pinhole vs. câmara analógica

Praça do Município, Portalegre


Nikon F, Tamron SP 17 mm, Rollei Retro 400.


Câmara pinhole artesanal.

A gama de objectivas SP da Tamron é de muito boa qualidade: esta 17 mm, em particular, sendo uma super grande-angular, tem correcção das linhas verticais e reduzido efeito de barril. Usada em câmaras de película não produz aberrações cromáticas e realiza imagens bastante nítidas.
A grande diferença entre as imagens realizadas com a Nikon F e com a câmara pinhole artesanal é na latitude de exposição e, consequentemente, na gama de tons cinzentos entre os pretos e os brancos, muito inferior na imagem estenopeica.

Detalhe do fotograma impresso em papel Ilford RC (original: 18 x 24 cm).

Detalhe do positivo digital da fotografia pinhole (original: 18 x 24 cm).

A nitidez - o recorte - é também inferior na fotografia pinhole, e mais seria se o furo não estivesse perfeitamente optimizado para a dimensão da caixa de madeira utilizada, mas isso não é um factor muito determinante para a apreciação global da imagem: tendo uma exposição calibrada para as luzes médias e baixas, é mais luminosa e aberta. O efeito de barril deve-se ao facto de que o papel estava curvado dentro da caixa.
Na verdade, se não fosse pelo efeito típico de forte vinhetagem (o escurecimento dos cantos da imagem) acreditamos que muitas pessoas pensariam estar perante uma fotografia realizada com uma objectiva de 20 mm, de média ou baixa gama a plena abertura do diafragma, e não perante uma imagem realizada com uma caixa de madeira onde a luz entrou por um furo feito numa chapa metálica...!
Mas atenção: não é uma finalidade da fotografia pinhole rivalizar com a fotografia tradicional e suas objectivas; o presente comparativo refere uma possibilidade entre muitas outras que a fotografia estenopeica nos oferece, mas nem sequer é das mais interessantes - vale o que vale, como curiosidade.

imagens: Rui Cambraia

16.11.08

Pinhole e natureza


Calçada medieval, câmara pinhole artesanal, 50'' de exposição.

Fotografar espaços urbanos, controlando a luz reflectida pelas fachadas dos edifícios, as altas e as baixas luzes com fortes contrastes de intensidade, é totalmente diferente de fotografar na natureza. Os tons "pastel" e as superfícies sem brilho que caracterizam a generalidade das plantas (arbustos, árvores) e das rochas, constituem uma armadilha para a avaliação fotométrica do nosso olhar. As árvores, por estarem num plano mais elevado que nós, são fotografadas quase sempre em contra-luz, criando largas manchas escuras na imagem sem qualquer informação visual.
A fotografia estenopeica de natureza precisa (pelo menos) três vezes mais tempo de exposição que a fotografia urbana, em particular se pensarmos que a melhor altura do dia para fotografar a natureza é quando o Sol está mais baixo - onde o recorte das formas e a distinção das cores (mesmo a preto e branco) são mais evidentes.

imagem: Rui Cambraia

14.11.08

Pinhole sem rede II


Penha, Portalegre
, câmara pinhole
artesanal, 30'' de exposição.

As câmaras artesanais andam sempre carregadas com papel fotográfico. Mesmo no fim-de-semana, sem acesso ao laboratório fotográfico, as câmaras acompanham-nos nos passeios para onde quer que seja, na condição de serem utilizadas. As imagens serão reveladas na primeira oportunidade da semana seguinte...!
O retorno à fotografia analógica traz consigo um fenómeno interessante: aquilo que outrora foi considerado (ou vivido como) um aspecto condicionante e desagradável, que é a impossibilidade de se ver a fotografia imediatamente - de ser necessário esperar horas ou dias para se receber as imagens -, é agora um prazer. A expectativa de ver a fotografia constitui hoje uma vertente lúdica associada à actividade fotográfica analógica, e especialmente à fotografia pinhole.



imagens: Rui Cambraia

6.11.08

Pinhole e nitidez

... muito cedo pela manhã, a caminho do trabalho...


Alagoa, câmara pinhole
artesanal, 60'' de exposição.

A fotografia pinhole, pelas características técnicas e estéticas de que se reveste, não obedece a qualquer estilo ou modelo formal de imagem. A nitidez, que Cartier-Bresson caracterizou como um "gosto desmedido" que traduz a ideia limitada que algumas pessoas têm da técnica fotográfica (1), por exemplo, não constitui um imperativo na fotografia estenopeica. Pelo contrário, sendo as longas exposições um factor técnico incontornável, a nitidez é precisamente o aspecto que mais sofre com isso, ainda que tal dependa profundamente da maior ou menor optimização do estenopo (do furo) em relação à "distância focal".
Este é um dos aspectos em que a fotografia pinhole faz toda a diferença relativamente a outras técnicas fotográficas, tirando partido do movimento e das exposições longas para recriar uma percepção do espaço e do tempo absolutamente singulares - como aquela do primeiro impacto da rua, quando saímos de casa pela manhã num dia de sol...

(1) Henry Cartier-Bresson, O instante decisivo in O imaginário segundo a natureza, Ed. Gustavo Gili, Barcelona.

imagem: Rui Cambraia

5.11.08

Pinhole sem rede

Uma câmara pinhole artesanal carregada com papel fotográfico, só realiza uma imagem de cada vez. Por essa razão, a generalidade dos praticantes de fotografia estenopeica só criam as suas imagens nas proximidades de um laboratório fotográfico. Isso permite-lhes realizar um maior número de imagens em cada sessão, e em caso de erro pode-se tentar de novo imediatamente.


S. Mamede, câmara pinhole artesanal, 50 '' de exposição.

Nesse sentido, viajarmos 11 km com uma câmara pinhole carregada dentro do carro, é o equivalente a uma pequena aventura fotográfica. A auto-responsabilização é maior; a atenção aos detalhes técnicos; a escolha precisa do melhor ponto de vista... tudo isso constitui uma experiência fotográfica mais rica, e se os resultados forem bons, tudo resultará numa vivência muito gratificante. Contudo, se o resultado não for do nosso agrado também pode ser um pouco mais frustrante do que o habitual. Como em tantas coisas na vida, é preciso arriscar para petiscar.
Na fotografia acima, o resultado, não sendo mau, também não é totalmente satisfatório, uma vez que o objectivo era registar uma imagem do marco geodésico e da sua implantação no afloramento rochoso. Infelizmente a pontinha do marco ficou cortada, comprometendo assim o trabalho realizado...
Teremos de lá voltar para repetir a imagem... o que neste caso é óptimo, porque a Serra de S. Mamede é um lugar privilegiado em múltiplos aspectos. Ir lá, seja com que pretexto for (e se for para fotografar) é sempre um tempo bem empregue.

imagem: Rui Cambraia

4.11.08

Cidade sem carros

Uma cidade sem carros é uma visão extraordinária.
Os automóveis formam uma cortina, em parte estática e noutra parte em movimento, que nos impede de apreendermos a totalidade do espaço e dos volumes imóveis que nele se estruturam.
É uma revelação. Desvela-se uma certa harmonia, mesmo onde há desarmonia, porque se desvela um conjunto vivo de coisas que nasceram de outras coisas, um cenário habitado, ou desabitado, mas sempre uma paisagem...
Os automóveis são parasitas. Pólenes, fagulhas, sujidade ou poluição. Nunca geram harmonia excepto na cabeça de algumas pessoas.

Praça do Município, câmara pinhole artesanal, 60'' de exposição.

A fotografia pinhole tem uma particularidade: as coisas em movimento raramente ficam registadas na imagem - pessoas, automóveis. Se não fossem os carros estacionados, a fotografia pinhole conseguiria representar o espaço, a paisagem urbana, como se nada mais existisse no interior desse espaço ou dessa paisagem.
Na imagem acima não há carros na realidade (nem estacionados) porque, por ocasião de uma visita oficial a Portalegre, a polícia vedou este local ao trânsito. Uma oportunidade única para admirar a Praça do Município tal como seria no tempo das carroças, sem carroças...

imagem: Rui Cambraia

31.10.08

Pinhole e latitude de exposição

A latitude de exposição, ou amplitude tonal, pode ser entendida como a capacidade de um suporte fotossensível registar uma determinada gama de tons lumínicos, entre altas luzes e baixas luzes.
O olho humano consegue registar uma vasta amplitude tonal, pelo que a nossa visão, em condições normais de luminosidade, nunca é muito contrastada: podemos percepcionar altas luzes (zonas muito iluminadas) sem perdermos os detalhes das baixas luzes (ou sombras).
Os suportes fotográficos variam muito na sua latitude de exposição: o filme negativo a preto e branco normal (pancromático) e o filme negativo a cores, de média sensibilidade (100 asa), têm uma amplitude tonal muito grande (ainda que inferior ao olho humano); o filme diapositivo para slides tem uma gama tonal mais curta, pelo que, tradicionalmente, é necessário sub-expor um pouco a exposição, para evitar queimar as altas luzes; o mesmo acontece com os sensores (CCD ou CMOS) das câmaras fotográficas digitais, embora os aparelhos mais recentes possuam uma amplitude tonal "activa" ou "adaptável" em tempo real (active D-lighting ou adaptative dynamic range). Em todo o caso, utilizando uma câmara fotográfica tradicional, o fotógrafo sempre conseguiu colocar a amplitude tonal do assunto a fotografar dentro da gama permitida pelo suporte utilizado, através do controle fotométrico de exposição que estas câmaras proporcionam.


S/ título, câmara pinhole artesanal, dia muito nublado,
30 segundos de exposição.
Exposição "correcta" para o céu nublado. Em contrapartida,
toda a zona inferior da imagem, em sombra, ficou negra,
ou seja, fora do limite inferior da amplitude tonal do papel.


A mesma imagem anterior, realizada com a mesma
câmara e nas mesmas condições, com 180 segundos
(3 minutos) de exposição.
Exposição "correcta" para os tons médios, onde as
altas luzes (céu) e as baixas luzes (sombras mais densas)
ficaram, respectivamente, brancas e negras, quer dizer,
acima e abaixo dos limites superiores e inferiores da
amplitude tonal do papel.


Em fotografia pinhole utiliza-se frequentemente papel fotográfico RC como suporte fotossensível. Este tipo de papel tem uma amplitude tonal muito pequena. Essa é a razão pela qual, tradicionalmente, é necessário um árduo trabalho de "máscaras" para imprimir um negativo em papel, ou seja, realizar uma impressão com diferentes tempos de exposição sobre diferentes zonas da imagem, de modo a tirar partido de todos os pormenores registados no negativo.
É por essa razão que as fotografias pinhole são geralmente muito contrastadas. Na verdade, se o assunto a fotografar tiver uma amplitude tonal muito alargada é impossível conseguir uma exposição que registe simultaneamente as altas e as baixas luzes. Normalmente é necessário optar pelo registo de uma ou outra faixa da amplitude tonal (ou o registo das zonas mais iluminadas ou das zonas menos iluminadas).
O acerto da exposição mais próxima da desejada é conseguido por tentativa e erro. No entanto, é forçoso salientar que, em fotografia pinhole, aquilo que determina a exposição "correcta" de uma imagem funda-se mais numa vertente estética do que numa vertente técnica, onde, frequentemente, as imagens mais bonitas e interessantes, são aquelas tecnicamente mais incorrectas...!

imagens: Rui Cambraia

30.10.08

Pinhole solarizada


Caixa de madeira e chapa metálica com estenopo.

A solarização é um efeito lumínico criado no laboratório fotográfico. Consiste na interrupção do processo de revelação de uma imagem, durante a qual se expõe a fotografia semi-revelada à luz, prosseguindo depois o processamento normal da imagem, completando-se o tempo de revelador, seguindo-se o banho de paragem, o fixador e a lavagem final. Esta interrupção da revelação com exposição à luz é muito curta, na ordem dos décimos de segundo.


Pç. da República, papel RC, 20'' de exposição e solarização, 18x24 cm.
Positivo digital.

A fotografia pinhole presta-se especialmente à realização deste efeito, na medida em que o aspecto da imagem solarizada acentua o carácter de "estranheza" característico das fotografias estenopeicas: a sensação de uma temporalidade ambígua e de uma espacialidade distendida, que estas imagens proporcionam, fica reforçada por elementos gráficos de contorno, e pela inversão inesperada dos tons em certas zonas da fotografia.

imagens: Rui Cambraia

28.10.08

Pinhole em miniatura

Caixa de rolo 35mm, chapa metálica com estenopo e fita-cola preta.

Esta câmara é a Minox das Pinholes.
Máxima portabilidade e uma excelente qualidade de imagem (seja lá o que for que qualidade queira dizer em fotografia estenopeica), associadas ao factor discrição, fazem desta câmara um objecto de culto nas oficinas de fotografia pinhole.
Como qualquer miniatura, suscita o que de melhor há em nós e chega a ser alvo de afectos e ternura, especialmente junto do público feminino.
Uma vantagem imbatível: sendo relativamente fácil juntar várias câmaras destas, e sem que isso se torne um problema de natureza logística, permite fazer saídas de campo para realizar múltiplas imagens sem a necessidade de um laboratório de fotografia.






Fotografias realizadas com tempos entre 1 e 3 segundos
de exposição, excepto a imagem realizada com película,
que teve um tempo indeterminado inferior a 1 segundo.


imagens: Rui Cambraia

20.10.08

Fotografia sem mise en scène


Castelo de Vide, Nikon F pinhole, película PB 400 ASA, 1/15 seg.

Este artigo é um excerto.
Ler o texto na totalidade no fim do artigo.

A fotografia pinhole reduz a encenação fotográfica ao essencial, ao mínimo sem o qual não haveria fotografia de todo.
Caracteriza-se pela realização de imagens fotográficas sem a utilização de lentes. A luz entra numa câmara escura por um pequeno furo (o pinhole) que, por essa razão, tem a faculdade de formar uma imagem no interior da câmara.
A existência de um ponto de vista é incontornável e inerente à existência física da própria câmara, ou seja, se ela existe tem que estar em algum lugar. Mas o enquadramento é sempre uma surpresa, porque a generalidade das câmaras estenopeicas não possuem visor. Aponta-se a câmara na direcção do assunto, e realiza-se a exposição sem nunca se perder a percepção completa do contexto real onde a imagem será forjada.
Não há diafragma nem obturador, e aquilo que determina o tempo de exposição da imagem é uma fita-cola negra ou mesmo o próprio dedo que tapa e destapa o furo. Há uma dimensão mais humana (corpórea) na realização de imagens pinhole artesanais, e que não se esgota no sistema de obturação.
Tradicionalmente, a duração da exposição é determinada por tentativa e erro, pois mesmo que se recorresse a um fotómetro, a indeterminação do diâmetro do furo, e o alto valor f forçosamente implicado, impossibilitam a determinação do tempo de exposição dessa forma. O fotómetro de uma câmara fotográfica pinhole tradicional, é, como outrora, os olhos e a sensibilidade do fotógrafo. O estabelecimento de uma relação íntima entre o fotógrafo e a luz é outro aspecto envolvido nesta técnica fotográfica, que os equipamentos modernos, pelo nível avançado de sofisticação e democratização, deixaram, em parte, desaparecer.
Mas é ao nível da nossa percepção do “tempo” que a fotografia pinhole coloca em causa os conceitos de temporalidade envolvidos na fotografia. Mesmo com películas mais sensíveis (sobretudo com papel fotográfico) os tempos de exposição não são superiores a 1/15 segundo. Ou seja, uma fotografia pinhole nunca é um instantâneo.
Não sendo um instantâneo, em que posição temporal se coloca uma imagem que foi realizada durante, digamos, 10 segundos? Na verdade, esta imagem compreende uma extensão de tempo que vai de um presente imediatamente passado, até um presente de onde emerge aquilo que, no instante anterior, era ainda futuro e indeterminado. Nesse sentido, a fotografia pinhole regista a duração das coisas, o que confere a estas imagens um carácter profundo, a expressão de uma densidade existencial que só muito dificilmente podemos ter de outra forma: a da nossa extensão nas coisas e a extensão das coisas em nós, como um tecido feito de vida em contínuo.

Este artigo é um excerto.
Ler o texto na totalidade:



imagem: Rui Cambraia

18.10.08

Actividades 2005-2008

2008
- Dia Mundial de Fotografia Pinhole, atelier de fotografia pinhole, promovido pelo LAC – Laboratório de Actividades Criativas, Lagos.


Laboratório fotográfico portátil.


Enfrentando o progresso com uma lata de biscoitos.

- Quiosque Pinhole II, conversão de um quiosque em câmara pinhole gigante, actividade didáctica e realização de fotografias pinhole de grandes dimensões, promovida pelo LAC – Laboratório de Actividades Criativas, Jardim da Constituição, Lagos.


Imagem projectada no interior do Quiosque Pinhole II.


Infante, fotografia pinhole realizada no interior do
Quiosque Pinhole II, papel Agfa Litex em rolo, P&B
positivo directo, 21 minutos de exposição, 250 x 100 cm.



Processamento da fotografia em 3 banheiras adaptadas.

2007
- Dinamização do Clube de Fotografia do Agrupamento de Escolas de Castelo de Vide.
- Dia Mundial de Fotografia Pinhole, atelier de fotografia pinhole e conversão da torre do castelo da vila em câmara pinhole gigante, actividades promovidas pela Associação OCRE, Castelo de Vide.




Torre do castelo pinhole.


Castelo de Vide, imagem pinhole projectada no interior
da torre do castelo, sobre as paredes e um painel.


Caixote do lixo pinhole, atelier de fotografia.
(imagem: Joana Andrade)


- Quiosque Pinhole, conversão de um quiosque em câmara pinhole gigante, actividade didáctica e realização de fotografia pinhole de grandes dimensões, promovida pelo LAC – Laboratório de Actividades Criativas, Jardim da Constituição, Lagos.


Quiosque Pinhole.


Imagem projectada no interior do Quiosque Pinhole.


Fortaleza de Lagos, fotografia pinhole realizada no interior
do Quiosque Pinhole, 200 x 40 cm, 7 minutos de exposição.

2006
- Atelier de fotografia pinhole, Clube de Fotografia da escola Ebi de Gavião.
- Dia Mundial de Fotografia Pinhole, atelier de fotografia pinhole e conversão do Arco Público dos Paços do Concelho em câmara pinhole gigante com realização de fotografia pinhole de grandes dimensões, actividades promovidas pela Associação OCRE, Castelo de Vide.


Arco Público dos Paços do Concelho, parcialmente

convertido em câmara pinhole gigante.


Imagem projectada no interior do Arco Público (inversão digital).


Praça D. Pedro V, fotografia pinhole realizada
no interior do Arco Público, 120 x 90 cm,
11 minutos de exposição.


2005
- Dia Mundial de Fotografia Pinhole, atelier fotografia pinhole, Associação OCRE, Castelo de Vide.

Participamos na exposição mundial on-line do Worldwide Pinhole Photography Day desde 2004.

imagens: arquivo de Pinhole Lab