31.10.08

Pinhole e latitude de exposição

A latitude de exposição, ou amplitude tonal, pode ser entendida como a capacidade de um suporte fotossensível registar uma determinada gama de tons lumínicos, entre altas luzes e baixas luzes.
O olho humano consegue registar uma vasta amplitude tonal, pelo que a nossa visão, em condições normais de luminosidade, nunca é muito contrastada: podemos percepcionar altas luzes (zonas muito iluminadas) sem perdermos os detalhes das baixas luzes (ou sombras).
Os suportes fotográficos variam muito na sua latitude de exposição: o filme negativo a preto e branco normal (pancromático) e o filme negativo a cores, de média sensibilidade (100 asa), têm uma amplitude tonal muito grande (ainda que inferior ao olho humano); o filme diapositivo para slides tem uma gama tonal mais curta, pelo que, tradicionalmente, é necessário sub-expor um pouco a exposição, para evitar queimar as altas luzes; o mesmo acontece com os sensores (CCD ou CMOS) das câmaras fotográficas digitais, embora os aparelhos mais recentes possuam uma amplitude tonal "activa" ou "adaptável" em tempo real (active D-lighting ou adaptative dynamic range). Em todo o caso, utilizando uma câmara fotográfica tradicional, o fotógrafo sempre conseguiu colocar a amplitude tonal do assunto a fotografar dentro da gama permitida pelo suporte utilizado, através do controle fotométrico de exposição que estas câmaras proporcionam.


S/ título, câmara pinhole artesanal, dia muito nublado,
30 segundos de exposição.
Exposição "correcta" para o céu nublado. Em contrapartida,
toda a zona inferior da imagem, em sombra, ficou negra,
ou seja, fora do limite inferior da amplitude tonal do papel.


A mesma imagem anterior, realizada com a mesma
câmara e nas mesmas condições, com 180 segundos
(3 minutos) de exposição.
Exposição "correcta" para os tons médios, onde as
altas luzes (céu) e as baixas luzes (sombras mais densas)
ficaram, respectivamente, brancas e negras, quer dizer,
acima e abaixo dos limites superiores e inferiores da
amplitude tonal do papel.


Em fotografia pinhole utiliza-se frequentemente papel fotográfico RC como suporte fotossensível. Este tipo de papel tem uma amplitude tonal muito pequena. Essa é a razão pela qual, tradicionalmente, é necessário um árduo trabalho de "máscaras" para imprimir um negativo em papel, ou seja, realizar uma impressão com diferentes tempos de exposição sobre diferentes zonas da imagem, de modo a tirar partido de todos os pormenores registados no negativo.
É por essa razão que as fotografias pinhole são geralmente muito contrastadas. Na verdade, se o assunto a fotografar tiver uma amplitude tonal muito alargada é impossível conseguir uma exposição que registe simultaneamente as altas e as baixas luzes. Normalmente é necessário optar pelo registo de uma ou outra faixa da amplitude tonal (ou o registo das zonas mais iluminadas ou das zonas menos iluminadas).
O acerto da exposição mais próxima da desejada é conseguido por tentativa e erro. No entanto, é forçoso salientar que, em fotografia pinhole, aquilo que determina a exposição "correcta" de uma imagem funda-se mais numa vertente estética do que numa vertente técnica, onde, frequentemente, as imagens mais bonitas e interessantes, são aquelas tecnicamente mais incorrectas...!

imagens: Rui Cambraia

30.10.08

Pinhole solarizada


Caixa de madeira e chapa metálica com estenopo.

A solarização é um efeito lumínico criado no laboratório fotográfico. Consiste na interrupção do processo de revelação de uma imagem, durante a qual se expõe a fotografia semi-revelada à luz, prosseguindo depois o processamento normal da imagem, completando-se o tempo de revelador, seguindo-se o banho de paragem, o fixador e a lavagem final. Esta interrupção da revelação com exposição à luz é muito curta, na ordem dos décimos de segundo.


Pç. da República, papel RC, 20'' de exposição e solarização, 18x24 cm.
Positivo digital.

A fotografia pinhole presta-se especialmente à realização deste efeito, na medida em que o aspecto da imagem solarizada acentua o carácter de "estranheza" característico das fotografias estenopeicas: a sensação de uma temporalidade ambígua e de uma espacialidade distendida, que estas imagens proporcionam, fica reforçada por elementos gráficos de contorno, e pela inversão inesperada dos tons em certas zonas da fotografia.

imagens: Rui Cambraia

28.10.08

Pinhole em miniatura

Caixa de rolo 35mm, chapa metálica com estenopo e fita-cola preta.

Esta câmara é a Minox das Pinholes.
Máxima portabilidade e uma excelente qualidade de imagem (seja lá o que for que qualidade queira dizer em fotografia estenopeica), associadas ao factor discrição, fazem desta câmara um objecto de culto nas oficinas de fotografia pinhole.
Como qualquer miniatura, suscita o que de melhor há em nós e chega a ser alvo de afectos e ternura, especialmente junto do público feminino.
Uma vantagem imbatível: sendo relativamente fácil juntar várias câmaras destas, e sem que isso se torne um problema de natureza logística, permite fazer saídas de campo para realizar múltiplas imagens sem a necessidade de um laboratório de fotografia.






Fotografias realizadas com tempos entre 1 e 3 segundos
de exposição, excepto a imagem realizada com película,
que teve um tempo indeterminado inferior a 1 segundo.


imagens: Rui Cambraia

20.10.08

Fotografia sem mise en scène


Castelo de Vide, Nikon F pinhole, película PB 400 ASA, 1/15 seg.

Este artigo é um excerto.
Ler o texto na totalidade no fim do artigo.

A fotografia pinhole reduz a encenação fotográfica ao essencial, ao mínimo sem o qual não haveria fotografia de todo.
Caracteriza-se pela realização de imagens fotográficas sem a utilização de lentes. A luz entra numa câmara escura por um pequeno furo (o pinhole) que, por essa razão, tem a faculdade de formar uma imagem no interior da câmara.
A existência de um ponto de vista é incontornável e inerente à existência física da própria câmara, ou seja, se ela existe tem que estar em algum lugar. Mas o enquadramento é sempre uma surpresa, porque a generalidade das câmaras estenopeicas não possuem visor. Aponta-se a câmara na direcção do assunto, e realiza-se a exposição sem nunca se perder a percepção completa do contexto real onde a imagem será forjada.
Não há diafragma nem obturador, e aquilo que determina o tempo de exposição da imagem é uma fita-cola negra ou mesmo o próprio dedo que tapa e destapa o furo. Há uma dimensão mais humana (corpórea) na realização de imagens pinhole artesanais, e que não se esgota no sistema de obturação.
Tradicionalmente, a duração da exposição é determinada por tentativa e erro, pois mesmo que se recorresse a um fotómetro, a indeterminação do diâmetro do furo, e o alto valor f forçosamente implicado, impossibilitam a determinação do tempo de exposição dessa forma. O fotómetro de uma câmara fotográfica pinhole tradicional, é, como outrora, os olhos e a sensibilidade do fotógrafo. O estabelecimento de uma relação íntima entre o fotógrafo e a luz é outro aspecto envolvido nesta técnica fotográfica, que os equipamentos modernos, pelo nível avançado de sofisticação e democratização, deixaram, em parte, desaparecer.
Mas é ao nível da nossa percepção do “tempo” que a fotografia pinhole coloca em causa os conceitos de temporalidade envolvidos na fotografia. Mesmo com películas mais sensíveis (sobretudo com papel fotográfico) os tempos de exposição não são superiores a 1/15 segundo. Ou seja, uma fotografia pinhole nunca é um instantâneo.
Não sendo um instantâneo, em que posição temporal se coloca uma imagem que foi realizada durante, digamos, 10 segundos? Na verdade, esta imagem compreende uma extensão de tempo que vai de um presente imediatamente passado, até um presente de onde emerge aquilo que, no instante anterior, era ainda futuro e indeterminado. Nesse sentido, a fotografia pinhole regista a duração das coisas, o que confere a estas imagens um carácter profundo, a expressão de uma densidade existencial que só muito dificilmente podemos ter de outra forma: a da nossa extensão nas coisas e a extensão das coisas em nós, como um tecido feito de vida em contínuo.

Este artigo é um excerto.
Ler o texto na totalidade:



imagem: Rui Cambraia

18.10.08

Actividades 2005-2008

2008
- Dia Mundial de Fotografia Pinhole, atelier de fotografia pinhole, promovido pelo LAC – Laboratório de Actividades Criativas, Lagos.


Laboratório fotográfico portátil.


Enfrentando o progresso com uma lata de biscoitos.

- Quiosque Pinhole II, conversão de um quiosque em câmara pinhole gigante, actividade didáctica e realização de fotografias pinhole de grandes dimensões, promovida pelo LAC – Laboratório de Actividades Criativas, Jardim da Constituição, Lagos.


Imagem projectada no interior do Quiosque Pinhole II.


Infante, fotografia pinhole realizada no interior do
Quiosque Pinhole II, papel Agfa Litex em rolo, P&B
positivo directo, 21 minutos de exposição, 250 x 100 cm.



Processamento da fotografia em 3 banheiras adaptadas.

2007
- Dinamização do Clube de Fotografia do Agrupamento de Escolas de Castelo de Vide.
- Dia Mundial de Fotografia Pinhole, atelier de fotografia pinhole e conversão da torre do castelo da vila em câmara pinhole gigante, actividades promovidas pela Associação OCRE, Castelo de Vide.




Torre do castelo pinhole.


Castelo de Vide, imagem pinhole projectada no interior
da torre do castelo, sobre as paredes e um painel.


Caixote do lixo pinhole, atelier de fotografia.
(imagem: Joana Andrade)


- Quiosque Pinhole, conversão de um quiosque em câmara pinhole gigante, actividade didáctica e realização de fotografia pinhole de grandes dimensões, promovida pelo LAC – Laboratório de Actividades Criativas, Jardim da Constituição, Lagos.


Quiosque Pinhole.


Imagem projectada no interior do Quiosque Pinhole.


Fortaleza de Lagos, fotografia pinhole realizada no interior
do Quiosque Pinhole, 200 x 40 cm, 7 minutos de exposição.

2006
- Atelier de fotografia pinhole, Clube de Fotografia da escola Ebi de Gavião.
- Dia Mundial de Fotografia Pinhole, atelier de fotografia pinhole e conversão do Arco Público dos Paços do Concelho em câmara pinhole gigante com realização de fotografia pinhole de grandes dimensões, actividades promovidas pela Associação OCRE, Castelo de Vide.


Arco Público dos Paços do Concelho, parcialmente

convertido em câmara pinhole gigante.


Imagem projectada no interior do Arco Público (inversão digital).


Praça D. Pedro V, fotografia pinhole realizada
no interior do Arco Público, 120 x 90 cm,
11 minutos de exposição.


2005
- Dia Mundial de Fotografia Pinhole, atelier fotografia pinhole, Associação OCRE, Castelo de Vide.

Participamos na exposição mundial on-line do Worldwide Pinhole Photography Day desde 2004.

imagens: arquivo de Pinhole Lab

Holga Pinhole 120


Holga Pinhole 120, com acessório para cabo
disparador e tripé de mesa ultra-leve em plástico.


Esta câmara não realiza imagens muito nítidas. Mas a nitidez não é uma virtude em fotografia pinhole. O diâmetro do estenopo não deve estar optimizado para a "distância focal" e talvez a Holga Pinhole sofra de astigmatismo ou aberração cromática severa (1). A questão é que isso não tem importância nenhuma...!
A ocular da câmara serve apenas de mira, enfim, para quem não quiser arriscar um enquadramento surpresa. Na realidade a imagem fotografada é muito mais abrangente (estilo grande angular) que aquela observada no "view finder".
Um primeiro plano bem próximo (e interessante) ou uma paisagem extraordinária (com luzes extraordinárias) são duas condições para se tirar prazer das imagens realizadas com esta câmara (embora este princípio se aplique a 75% das fotografias realizadas no mundo).


Magoito, Fujicolor Superia 100, 4 segundos.

A Holga Pinhole é uma câmara fantástica. Utilizando rolo 120, tem um acessório que permite realizar 12 imagens 6x6 ou 16 imagens 6x4. É ultra-leve, ergonómica, lindíssima e com ar de que vai autodestruir-se a qualquer momento... mas não, ela aguenta um bocadinho de tudo.
Desaconselha-se vivamente a utilização de rolos Fujicolor 160S porque ficam com uma dominante excessivamente azul, e em geral proporcionam imagens muito descoradas... embora, pensando bem, isso não seja assim tão mau...! Os Fujicolor Superia 100 realizam imagens mais agradáveis (menos frias).


Ponte Velha
, Fujicolor 160S, 14 segundos.

Os Portra 100 VC da Kodak têm uma imagem em tudo semelhante aos Superia: porque na fotografia pinhole há sempre frequências do espectro da luz mais privilegiadas que outras, estes rolos não conseguem apresentar o aspecto "vivid color" que os caracteriza normalmente.
Para quem pretende realizar imagens estenopeicas bem coloridas, a sugestão vai para a utilização de película de slides (E-6), como a Kodak Ektachrome 100G, revelada posteriormente em processamento para negativos-cor (C-41)... se encontrarem alguém que o faça!


Arraiolos, Kodak Portra VC 160, 6 segundos.


Arraiolos, Kodak Ektachrome 100 G, 4 segundos, proc. C-41.

A preto e branco a escolha dos rolos é livre, tudo funciona... e bem vistas as coisas, a cores também...! Em relação à utilização de slides revelados "como deve de ser" em processo E-6, por se tratar de uma coisa já tão complicada em Portugal, não nos pronunciamos... boa sorte!
A Holga Pinhole versão 120 e versão 135 (esta é ridícula, não queiram ver) pode ser comprada no website da Sociedade Lomográfica (Austria), sem problemas e ultra-rápidamente, ou em Lisboa e Porto, localmente nas Embaixadas Lomográficas, e aqui também... boa sorte!

(1) Em muitos artigos de divulgação, normalmente publicados por pessoas de ciências, o astigmatismo e a aberração cromática são referidos como "problemas" da fotografia Pinhole, e até o facto de os estenopos (os pinholes) deixarem entrar muito pouca de luz é referido, por vezes, como sendo um problema (e se não fosse assim nem existiria fotografia pinhole...!).
Gostaríamos que ficasse claro que estes factos da fotografia pinhole não constituem problemas: são características e qualidades da fotografia pinhole. A beleza e o carácter das imagens estenopeicas deve-se a essas particularidades.
Parafraseando a Sociedade Lomográfica diríamos: o futuro é astigmático e cromáticamente aberrante...!

imagens: Rui Cambraia